Assim que soube que o uso do
farol baixo do carro em rodovias durante o dia seria obrigatório, a promotora
de eventos Lindi da Silva se adiantou. Apesar de a medida só passar a valer no
dia 8 de julho, ela começou a deixar o farol do carro ligado para se acostumar.
A tentativa, entretanto, rendeu três chamadas ao guincho. Como ela esquecia as
luzes ligadas ao sair do carro, a bateria descarregou três vezes.
Depois da dor de cabeça, uma
solução criativa: um adesivo no painel do carro com os dizeres “Oi, Lindi, não
esqueça de acender e apagar os meus faróis” é o lembrete diário da promotora de
eventos. “Quando soube da lei, eu vi que ia precisar de um aviso, porque eu
esquecia mesmo”, diz Lindi. Ela avalia que o uso do farol é importante para aumentar
a visibilidade dos veículos nas estradas. “Quando eu estou dirigindo e vejo um
carro no retrovisor com o farol ligado, isso chama a atenção”.
O uso do farol baixo aceso
durante o dia em rodovias será obrigatório a partir da próxima sexta-feira (8).
Quem for flagrado com as luzes apagadas será multado em R$ 85,13 e terá quatro
pontos na carteira de habilitação. A lei que estabelece a medida foi sancionada
pelo presidente interino Michel Temer no dia 24 de maio. A proposta teve início
na Câmara dos Deputados e foi aprovada pelo Senado em abril.
O objetivo da medida é
aumentar a segurança nas estradas, reduzindo o número de acidentes frontais. De
acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o uso de faróis durante o dia permite
que o veículo seja visualizado a uma distância de 3 quilômetros por quem
trafega em sentido contrário. O farol baixo não pode ser substituído por farol
de milha, farol de neblina ou farolete.
A Polícia Rodoviária Federal
vai começar a multar os motoristas que não estiverem com os faróis acesos
durante o dia nas rodovias a partir do dia 8. Desde que a lei foi sancionada,
os policiais vêm conversando com os motoristas sobre a importância de usar os
faróis ligados.
Para o assessor de
comunicação da PRF, Diego Brandão, os condutores não vão ter dificuldades em se
adaptar à nova regra. “É uma mudança cultural. É importante que o motorista
seja sensibilizado que, adotando essa medida, além de fugir das penalidades
impostas pela lei, ele contribui para a diminuição de acidentes, que é o mais
importante”.
Para Brandão, qualquer
medida que aumente a visibilidade de um veículo pode ajudar na redução de
acidentes. “Apesar de não haver estudos técnicos na PRF sobre o assunto, temos
diversas situações e relatos falando sobre a causa do acidente ter sido a falta
de visibilidade. Então, acreditamos que o aumento da visibilidade do veículo
vai contribuir para a redução dos
acidentes”, diz.
Atualmente, uma resolução de
1998 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) apenas recomenda o uso do farol
baixo nas rodovias durante o dia. O uso do farol baixo durante o dia já é
exigido para ônibus, ao circularem em vias próprias, e motocicletas. Também é
obrigatório para todos os veículos durante a noite e em túneis,
independentemente do horário.
Apesar de considerar que é
recomendável o uso do farol aceso quando houver dificuldades de visibilidade
nas rodovias, o professor Paulo César Marques da Silva, do Programa de
Pós-Graduação em Transportes da Universidade de Brasília (UnB), diz que a
medida poderia ser apenas uma recomendação, e não uma obrigação.
“Tenho dúvidas se isso
precisava virar lei ou se poderia ser uma recomendação como boas práticas. Não
sei se seria mesmo o caso de tornar lei e, portanto, ter que fiscalizar, punir
quem não estiver cumprindo. Mas, pelo menos, mal não vai fazer”, diz.
Para ele, os motoristas
podem demorar um pouco para se acostumar com a nova obrigatoriedade. O único
inconveniente da medida, segundo o professor, é o consumo maior de bateria por
causa do uso do farol ligado. Ele defende que os carros saiam de fábrica com
dispositivos que liguem e desliguem os faróis automaticamente. “Eu mesmo já
ando com farol ligado independentemente de estar em rodovia ou não. Aqui em
Brasília é difícil de distinguir quando é ou não rodovia”.
Em Brasília, os motoristas
devem ficar ainda mais atentos à nova medida, porque grande parte das vias que
ligam o centro da capital a regiões administrativas são rodovias, como a
Estrada Parque Taguatinga (EPTG), a Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), a
Via Estrutural, o Eixão Sul e Norte e a L4 Sul e Norte. O Departamento de
Estradas de Rodagens do Distrito Federal (DER-DF) já realiza blitz educativa
para alertar os motoristas sobre a nova norma.
A lei teve origem em um
projeto apresentado pelo deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR). De acordo com
o parlamentar, depois que a obrigatoriedade do farol aceso durante o dia foi
adotada nas rodovias dos Estados Unidos, o número de acidentes frontais
diminuiu em 5% e o número de outros acidentes, como atropelamentos e acidentes
com bicicletas, reduziu em 12%. Na Argentina, os estudos mostram que o número
de acidentes diminuiu 28%.
Em 2014, 43.780 pessoas
morreram em acidentes de trânsito no Brasil, de acordo com o Sistema de
Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde. Em 2015, o Sistema Único de
Saúde (SUS) registrou 132.756 internações em decorrência de acidentes de
trânsito. Nas estradas federais, foram 122 mil acidentes e 6.859 mortes no ano
passado, segundo a PRF.
Fonte:
Agência Brasil
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