Ibope usa pela primeira vez método para medir a audiência nas escolas e chega a este resultado em um grupo experimental médio
Da carga horária anual de 800 horas previstas pela legislação brasileira para as escolas de ensino médio, apenas 43%, ou 344, são efetivamente de atividades de aprendizado.
No restante, ou não há aula ou o aluno não está lá para aprender. O dado é de um estudo inédito realizado pelo Ibope em 18 escolas públicas para medir a “audiência” desta etapa de ensino.
A audiência neste caso é dada pela soma de dois fatores. O primeiro, chamado de “oportunidade de ensinar”, foi calculado sobre as aulas efetivamente dadas e o segundo de “oportunidade de aprender” extrai do anterior o tempo em que o estudante estava em classe.
O resultado foi alarmante. Entre as 4 horas de aula que são obrigatórias por dia, apenas em 1 hora e 44 minutos o professor está oferecendo uma atividade aos estudantes e eles estão presentes para participar. “Mais da metade do tempo é qualquer outra coisa, que não aprendizado”, diz Ana Lima, diretora-executiva do Ibope.
A superintendente-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, destaca a importância do dado em um momento em que o governo estuda a possibilidade de aumentar a carga horária. “Não adianta aumentar o prato, se não tem comida dentro. Neste momento, deveríamos pensar em garantir estas quatro horas diárias.”
Metodologia
Como mesmo entre 18 escolas havia muita disparidade, a pesquisa dividiu o resultado em três grupo. O primeiro de “alta audiência”, o segundo de “média audiência” e o terceiro de “baixa audiência”. "Não adianta uma pessoa colocar a cabeça no forno o pé na geladeira depois pegar um termômetro e dizer que a temperatura está média", explica Ana Lima.
A audiência de 43% é relativa ao grupo médio. No primeiro, há cerca de 2 horas e 13 minutos de atividades diárias com a presença de alunos ou audiência final, ainda pequena, de 55%. No pior cenário, o total cai para 32% ou 1 hora e 17 minutos.
Para chegar aos dados finais foram usados dois critérios. O primeiro, "oportunidade de ensinar", foi medido por observadores que frequentaram todas as aulas de duas turmas em cada escola por uma semana em cada mês durante os 10 meses letivos do ano.
Eles anotavam dois componentes: se havia aula e em que momento ela começava e acabava – medindo a partir do primeiro instante em que o professor iniciava qualquer proposta e terminando com a saída dele. Para cada aula existente, o tempo médio foi de 43 minutos.
No primeiro grupo, de alta audiência, esse primeiro critério atingiu 83% das aulas previstas. No segundo grupo 71%, e no terceiro, 58%. A partir deste primeiro filtro, entrava o segundo critério, chamado de “oportunidade de aprender”, que levou em conta quantos alunos estavam em sala no tempo em que houve aula e os resultados foram respectivamente 66%, 61% e 55%. Para a conta final o porcentual do primeiro critério é multiplicado pelo segundo, ou seja:
Exemplo do 1º Grupo
Total de horas por dia: 4 horas
Porcentual em que houve aula: 83% (3 horas e 12 minutos)
Porcentual de alunos que estavam nas aulas: 66%
Média de horas aproveitadas pela turma toda (83 x 66 = 55%): 2 horas e 13 minutos
Do desperdício de oportunidade de ensinar, o principal fator, são as faltas do professores. No primeiro grupo, professores faltaram em 5% das aulas. No segundo, as faltas sobem para 12% e no terceiro atingem 19%.
A metodologia do estudo será disponibilizada para as escolas, para que as instituições possam medir sua própria audiência.
Cinthia Rodrigues, iG São Paulo
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