Pelo menos dois padres da Arquidiocese da Paraíba estão
afastados por suspeitas da prática de pedofilia, em João Pessoa. A revelação
foi feita nesta segunda-feira (19) pelo arcebispo da Paraíba, dom Aldo Pagotto
(foto), durante entrevista por telefone concedida ao JORNAL DA PARAÍBA. Os
casos estão sendo investigados pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) e os
padres podem ser suspensos definitivamente da Igreja Católica caso as denúncias
se confirmem. Os nomes e as paróquias dos padres não foram revelados.
“Não posso dizer os nomes nem dar mais detalhes porque
posso expor demais essas pessoas, de forma indevida. As denúncias podem ser
infundadas. Vamos esperar a apuração do MP”, disse o arcebispo. Segundo ele,
atualmente há cinco padres afastados de suas funções, o que não quer dizer que
são todos por denúncias de pedofilia. O afastamento dura o tempo necessário
para esclarecer os fatos. A pedofilia é a prática sexual realizada com crianças
ou adolescentes.
De acordo com o arcebispo, quando um padre tem um
comportamento inadequado, pode ser afastado ou mesmo suspenso. “A suspensão
acontece quando é uma falta grave, que implica em crime ou escândalo, como
pedofilia, por exemplo”, declarou. “Temos pelo menos dois padres afastados por
denúncias de pedofilia. Os casos foram comunicados imediatamente ao Ministério
Público, eu não poderia jamais ficar omisso”, disse Pagotto.
Segundo ele, as decisões dentro da Igreja Católica não
são unilaterais. Quando há um desvio de comportamento, a situação é julgada
pelo conselho, que vai decidir a punição para o padre. “O conselho tem o papel
de orientar, não é uma camisa de força, mas não podemos admitir nenhum
comportamento que vá contra a moral ou a doutrina do Catolicismo”, afirmou.
“Diante disso ele é convidado a se afastar de suas funções, podendo ou não
retornar ao cargo”, explicou.
Mas em casos de pedofilia, segundo o arcebispo, a
consequência prevista é a suspensão do sacramento da Ordem. Ao decidir se
tornar padre, o homem deve renegar todo e qualquer desejo sexual. Pela doutrina
católica, os padres têm que abraçar o celibato, lei que os proíbem casar e ter
filhos. O celibato, inclusive, é uma questão polêmica que atravessa séculos.
O arcebispo reforçou que, ao escolher ser padre, as
pessoas devem ter a absoluta clareza do papel de um sacerdote e voltou a falar
do crime de pedofilia. “Em todos os escândalos que já estouraram pelo Brasil
afora envolvendo pedofilia na Igreja Católica os padres foram afastados e
suspensos da Ordem. É inadmissível”, comentou. A expulsão do sacerdócio é feita
pela Congregação para a Doutrina da Fé, órgão da Santa Sé.
Pagotto informou também que esporadicamente chama a
atenção de alguns padres, por questões diversas. “Se observamos algum
comportamento que deve ser reorientado de acordo com o que manda a Igreja,
certamente o faremos. Temos que aceitar as opiniões diferentes, mas não podemos
nunca fugir ao que rege a igreja”, afirmou do Aldo Pagotto.
DENÚNCIAS
ENCAMINHADAS AO MP
De acordo com dom Aldo, as denúncias foram encaminhadas
ao conhecimento do Ministério Público. No entanto, apesar da pedofilia ser um
crime envolvendo crianças e adolescentes, a denúncia não será apurada pela
Promotoria da Juventude e da Infância de João Pessoa, como explicou o titular
do órgão, Arley Escorel. “A Promotoria é protetiva, ou seja, se identificarmos
qual criança ou adolescente que foi vítima da violência, iremos prestar
assistência a essa vítima”, afirmou.
A coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Criança
e do Adolescente, promotora Soraya Escorel, também acrescentou que as denúncias
sobre práticas de crimes são encaminhadas à Promotora Criminal, onde o
inquérito judicial é instalado e, para em seguida, ser remetido à justiça.
Através da assessoria de imprensa, o Ministério Público
da Paraíba informou que não localizou o processo em que aparecem as denúncias
contra os padres. O setor ainda explicou que, caso as investigações estejam
correndo em segredo de justiça, não aparecem no sistema eletrônico do MPPB.
Papa pede ação contra abusos. Em abril deste ano, o papa
Francisco pediu publicamente uma ação decisiva contra abusos sexuais de
crianças e adolescentes cometidos por membros da Igreja Católica. Na ocasião
ele disse que a Igreja precisa agir com determinação para ajudar os menores e
adotar os procedimentos necessários para os culpados. O papa anterior, Bento
XVI, quando assumiu prometeu combater a pedofilia clerical, mas críticos o
acusaram de acobertar abusos no passado e de não ter protegido as crianças da
ação de padres pedófilos.
VITRINE
DO CARIRI
JP
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