O interrogatório do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz federal Sergio Moro durou
cerca de 3 horas e 20 minutos. O petista presta depoimento nesta quarta-feira,
10, em ação penal sobre o suposto recebimento de propina da construtora OAS por
meio de um tríplex no Guarujá e o armazenamento de bens que acumulou durante a
Presidência. O petista é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção – ele nega
as acusações.
Moro foi o primeiro a fazer
perguntas a Lula, a partir de 14h20, aproximadamente. Durante as quase três
horas e vinte minutos, houve um intervalo de cerca de 10 minutos em que as
partes puderam se servir de água e café. Após as perguntas juiz da Lava Jato,
foi à vez de o Ministério Público Federal dar início a seus questionamentos, já
por volta das 17h40. Depois da Procuradoria da República, foi a vez dos
advogados das partes. Ao final da audiência, o juiz pode voltar a fazer
perguntas ao réu.
O tríplex fica no Edifício
Solaris, que era da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), a
cooperativa fundada nos anos 1990 por um núcleo do PT. Em dificuldade
financeira, a Bancoop repassou para a OAS empreendimentos inacabados, o que
provocou a revolta de milhares de cooperados. O ex-tesoureiro do PT João
Vaccari Neto foi presidente da Bancoop.
A ex-primeira-dama Marisa
Letícia Lula da Silva (morta em fevereiro deste ano) assinou Termo de Adesão e
Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu “uma cota-parte para a
implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico”, atual Solaris,
em abril de 2005. Em 2009, a Bancoop repassou o empreendimento à OAS e deu duas
opções aos cooperados: solicitar a devolução dos recursos financeiros integralizados
no empreendimento ou adquirir uma unidade da OAS, por um valor
pré-estabelecido, utilizando, como parte do pagamento, o valor já pago à
Cooperativa.
Segundo a defesa de Lula, a
ex-primeira-dama não exerceu a opção de compra após a OAS assumir o imóvel. Em
2015, Marisa Letícia pediu a restituição dos valores colocados no
empreendimento. A Lava Jato afirma que a OAS pagou durante cinco anos pelo
aluguel de dez guarda-móveis usados para armazenar parte da mudança do
ex-presidente Lula quando o petista deixou o Palácio do Planalto no segundo
mandato. A empreiteira desembolsou entre janeiro de 2011 a janeiro de 2016, R$
1,3 milhão pelos contêineres, ao custo mensal de R$ 22.536,84 cada.
Toda negociação com a
transportadora Granero teria sido intermediada pelo presidente do Instituto
Lula, Paulo Okamotto, que indicou a OAS como pagante com o argumento de que a
empreiteira é uma “apoiadora do Instituto Lula.” Para investigadores da Lava
Jato, os fatos demonstram “fortes indícios de pagamentos dissimulados” pela OAS
em favor de Lula. Isso porque o contrato se destinava a “armazenagem de
materiais de escritório e mobiliário corporativo de propriedade da construtora
OAS Ltda”, mas na verdade os guarda-móveis atendiam a Lula.
(Veja com Estadão Conteúdo)
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