segunda-feira, 29 de julho de 2013

Dinheiro do Jampa Digital foi usado na campanha de 2010 na PB, diz PF



Novos documentos e gravações revelam que o dinheiro do Projeto Jampa Digital, criado para levar internet gratuita à população de João Pessoa, foi desviado e usado na campanha de 2010, conforme mostrou nesta segunda-feira (29) a edição do Bom Dia Paraíba em reportagem exclusiva.

A reportagem teve acesso aos novos documentos que foram anexados ao inquérito da Polícia Federal, entregue semana passada ao Tribunal Regional Federal, no Recife, no qual 23 pessoas foram indiciadas sob a suspeita de terem participado do esquema que, segundo investigações, desviou mais de R$ 1 milhão dos cofres públicos.

De acordo com a Polícia Federal, uma empresa fantasma, a Brickell, pagou salário de pessoas que trabalharam na campanha eleitoral de 2010 pela Coligação Uma Nova Paraíba, do atual governador Ricardo Coutinho (PSB) e do vice-governador Rômulo Gouveia (PSD). Documentos revelam que, mesmo o salário de um funcionário tendo sido pago pela Brickell, a carteira de trabalho dele foi assinada pela MKPol - Marketing Político.

A assessoria de comunicação do governo da Paraíba disse que no momento em que for aberto o processo de investigação pelo Ministério Público Federal contra irá ser feita a defesa dos citados, e que no momento não vai se pronunciar sobre as novas denúncias. A defesa do publicitário Duda Mendonça disse que ele não tem nenhum envolvimento com as empresas citadas. O advogado Antônio Carlos da Silva Castro disse que o cliente dele apenas trabalhou na campanha de Ricardo Coutinho e que não tem nenhuma responsabilidade com o que está sendo investigado.

O Tribunal Regional Federal, no Recife, ainda não decidiu se vai remeter o parecer do Ministério Público Federal ao Tribunal Superior Federal. Caso isso aconteça, o ministro das Cidades e o governador Ricardo Coutinho passarão a ser investigados, o que não ocorreu até o momento porque ambos têm foro privilegiado.

O vice-governador Rômulo Gouveia e o ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro negaram ter envolvimento no esquema. Rômulo, que foi apontado como autor do esquema, disse que o inquérito não traz provas contra ele e que abre mão do sigilo bancário para investigações. Uma das pessoas ouvidas pela PF afirmou ter recebido R$ 3 mil para trabalhar como motorista por um período de três meses.

As investigações mostram que, mesmo o dinheiro tendo sido repassado pela Brickell, a carteira de trabalho do funcionário foi assinada pela MKPol – Marketing Político, do marqueteiro Duda Mendonça, contratado para fazer a campanha do PSB. O motorista disse, em depoimento, que entregou a carteira de trabalho no espaço onde eram gravados os guias eleitorais da campanha de Ricardo Coutinho, no bairro de Mangabeira, em João Pessoa.

Informações bancárias, anexadas ao inquérito, mostram que apenas um funcionário da empresa Brickell fez vários depósitos em outras contas, em um total de R$ 104 mil. A polícia agora quer saber a quantia que foi parar nas contas de quem trabalhou na campanha do atual governador da Paraíba. O funcionário responsável pelos depósitos é um motoboy, que trabalha para Duda Mendonça em São Paulo.

A Brickel é uma das duas empresas usadas para a lavagem de dinheiro, de acordo com o inquérito da PF. As empresas receberam mais de R$ 1,1 milhão da Ideia Digital, empresa que ganhou a licitação para implantar o Programa Jampa Digital, lançado em 2010 para levar internet de graça à população de João Pessoa.

Crimes apontados no inquérito

Ao todo, foram indiciadas 23 pessoas pela Polícia Federal. Entre os indiciados estão gestores, funcionários públicos e empresários. Uma delas é o vice-governador Rômulo Gouveia. Ainda de acordo com a PF, houve direcionamento de licitação, superfaturamento, desvio de verbas públicas, pagamento de propina e falsificação de documentos. Na sexta-feira (26), o Ministério Público Federal (MPF) deu um parecer no qual confirma os indícios de irregularidades no Projeto Jampa Digital apontados no inquérito da PF.

O MPF recomenda que sejam apuradas as supostas participações do governador Ricardo Coutinho e do ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro, que era secretário da Ciência e Tecnologia da capital paraibana na época da elaboração do Jampa Digital. A investigação do suposto envolvimento de Ricardo Coutinho e Aguinaldo Ribeiro no esquema não foi feito pela PF porque os dois têm foro privilegiado por causa dos cargos que ocupam.

G1 PB, com TV Cabo Branco

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