A
Telexfre continuará impedida de fazer pagamentos aos inscritos no negócio – são
450 mil, segundo a empresa. Acusada de ser a maior pirâmide financeira da
história do Brasil, a Telexfree também seguirá proibida de arregimentar novos
interessados. E os bens dos proprietários, suspeitos de tentarem desviar os
recursos investidos pelos associados, permanecerão bloqueados.
Esses
são os efeitos da decisão da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Acre
(TJ-AC), a terceira derrota da empresa no Estado, para além de uma em Brasília.
Em sessão ocorrida nesta segunda-feira (8), o órgão, composto por três
magistrados, manteve a liminar da juíza Thaís Khalil, de Rio Branco , que desde
o dia 18 de junho determinou a suspensão das movimentações financeiras e da
entrada de outros integrantes na rede Telexfree, bem como congelou as contas de
Carlos Costa, Carlos Wanzeler, James Merril e Lyvia Wanzer. A sentença vale
para todo o Brasil.
A
promotora Alessandra Marques, uma das integrantes da equipe do MInistério
Público do Acre (MP-AC) que investiga a Telexfree, diz não saber se a empresa
conseguirá sobreviver à manutenção do bloqueio. Mas a
"tendência", diz ela, é que
não. "Não faço ideia [ se a empresa fechará as portas ], mas a tendência é
que ela não consiga operar, pois o sistema só funciona com mais gente entrando
[o que está impedido pela decisão]", disse Alessandra ao iG logo após o anúncio da decisão.
'Não há chance de quebra'
A
Telexfree ainda pode recorrer ao próprio TJ-AC, mas, após três decisões
contrárias à empresa (a liminar e dois recursos), uma vitória é pouco provável
ali. Outra opção é tentar levar o caso diretamente ao Superior Tribunal de
Justiça (STJ), mas também nesse Tribunal a empresa já sofreu uma derrota no
último dia 2 de julho.
"Todos
os recursos cabíveis vão ser interpostos", disse o advogado da empresa,
Horst Fuchs, após a decisão. Fuchs negou que a nova derrota coloque em risco a
sobrevivência da empresa. "Não há mínima chance de isso acontecer."
A
liminar foi pedida pelo Ministério Público do Acre (MP-AC), responsável por
acusar a empresa de ser uma pirâmide financeira. O objetivo argumenta o MP, é
garantir que quem investiu dinheiro no negócio possa ser ressarcido. Na ação
civil pública apresentada à Justiça em 28 de junho, o MP-AC pede a extinção da
Telexfree e a devolução de todo o dinheiro aos cadastrados.
O
primeiro recurso foi negado pelo desembargador Samoel Evangelista no dia 24.
Nesta segunda-feira (8), ele e as magistradas Waldirene Cordeiro e Regina
Ferrari – que compõem a 2ª Câmara Cível do TJ-AC – recusaram novamente o pedido
de derrubada da liminar.
A
decisão foi unânime. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal, Evangelista
argumentou que a Telexfree de fato se configura como uma pirâmide e que
estimula a atividade informal. As desembargadoras Waldirene e Regina disseram
concordar integralmente com a interpretação do magistrado.
J. Duran Machfee/Futura Press
Divulgador
participa de protesto a favor da Telexfree
em
São Paulo, no último sábado (29)
|
Os representantes da Telexfree sempre
negaram qualquer irregularidade .
Desde
que o bloqueio foi determinado, em junho, protestos têm ocorrido de
divulgadores da Telexfree em diversos Estados. A juíza Thaís Khalil foi
ameaçada de morte . Cerca de 18 mil reclamações foram feitas ao Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e 15 mil, ao STJ. Deputados da Assembleia Legislativa
do Acre fizeram defesa veemente da empresa e tiveram uma audiência com os
promotores.
O
caso despertou a atenção para uma "febre" de empresas com indícios de
pirâmide financeira no País, como define o diretor do Departamento de Proteção
e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça, Amaury Oliva. Ao menos outros
sete casos são investigados em todo o País.
Negócio insustentável
A
Telexfree, nome fantasia da Ympactus Comercial LTDA, informa ser uma provedora
de telefonia via internet (VoIP, na sigla em inglês) que comercializa o serviço
por meio do marketing multinível – um modelo de varejo em que os distribuidores
ganham bônus pelas vendas feitas por outros distribuidores indicados, por eles,
para a rede.
O
modelo de negócios da empresa, porém, foi considerado insustentável pela
Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda. Isso
porque o faturamento da Telexfree viria, sobretudo, das taxas de adesão pagas
pelos associados – chamados de divulgadores –, e não da venda de pacotes de
minutos.
Para
os promotores do Acre, o serviço de telefonia serve apenas para disfarçar a
pirâmide financeira supostamente montada pela empresa. Entre as evidências
apontadas pelos promotores estão: os associados são remunerados por postar
anúncios em sites, mais do que por vender pacotes VoIP; é mais vantajoso cadastrar
novos associados do que vender o serviço; e há poucos clientes que não sejam
também associados.
'Maior pirâmide do Brasil', diz MP
A
promessa de ganhos expressivos permitiu que a Telexfree, uma microempresa
aberta em 2010 no Espírito Santo, recrutasse até março de 2013 cerca de 450 mil
pessoas, segundo Carlos Costa, um dos sócios .
Na
ação civil pública, os promotores lembram que os dois últimos grandes casos de
pirâmides financeiras, a Avestruz Master e a Boi Gordo, tiveram respectivamente
40 mil e 30 mil associados prejudicados. Por isso, consideram que a Telexfree
constitutiu a maior pirâmide do Brasil. No
Acre, segundo o depoimento aos promotores de um dos principais divulgadores da
Telexfree no Estado, são cerca de 70 mil – o equivalente a 10% da população do
Estado.
Embora
os volumes negociados pela empresa sejam desconhecidos, no dia 19 de junho, os sócios
da Telexfree tentaram transferir R$ 101 milhões para as contas de outras duas
empresas ligadas ao grupo. Isso levou a juíza Thaís Khalil a reiterar a
determinação de bloqueio dos bens dos sócios no valor de R$ 6 bilhões. Fuchs
diz que a operação era legal e serviu para pagar fornecedores.
Um
dos temores do MP-AC é que, se a liminar caísse, as verbas que poderiam voltar
para os divulgadores brasileiros fossem desviadas para outros países. Wanzeler
e Merril, sócios da Telexfree Brasil, também fundaram, em 2002, a Telexfree
Inc, nos Estados Unidos. Lá, como o iG revelou, a empresa já contratou um
advogado com experiência em casos de pirâmide financeira .
Outras investigações
Outros
ministérios públicos estaduais também investigam a Telexfree, como o do Rio
Grande do Norte e o de Mato Grosso. A Secretaria Nacional do Consumidor
(Senacon), do Ministério da Justiça, iniciou um procedimento administrativo que
pode resultar numa multa de R$ 6 milhões .
Na
esfera criminal, os sócios da empresa respondem a dois inquéritos por crime
contra a economia popular – tipificação na qual se enquadra a formação de
pirâmides – e lavagem de dinheiro pela Polícia Civil do Acre e do Espírito
Santo. O Ministério Público Federal tem acompanhado o caso e, possivelmente,
também ingressará com uma ação contra a empresa.
Fonte ig
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