O governador Tião Viana (PT), do Acre, saiu em defesa da
Telexfree , acusada de ser uma pirâmide financeira com 1 milhão de associados
no Brasil. As declarações foram dadas uma semana antes de o Judiciário decidir
se manteria ou não o processo que pede a extinção do negócio, e o bloqueio de
contas e atividades da empresa, determinado há 157 dias .
Viana, ex-presidente do Senado, disse ao diretor da
Telexfree, Carlos Costa, que daria perante à Justiça “testemunho em favor dessa
atividade”, segundo vídeo divulgado na quarta-feira (20) na página oficial da
empresa em uma rede social. O encontro ocorreu na semana anterior, durante
visita de Costa a Rio Branco.
“O que eu queria lhe dizer e que você [ Carlos Costa ]
pode ter assim: ‘Olha, eu tenho, do governador do Acre, um testemunho a favor
dessa atividade’", disse Viana a Carlos Costa. “E pode me usar em qualquer
tribunal. Eu dizia o que eu lhe disse aqui, eu digo no STJ [ Superior Tribunal
de Justiça ], eu digo em qualquer tribunal. Dou o testemunho. Porque eu não vi
ninguém reclamar, como é que [ alguém ] vai ser contra?”
Viana vinha sendo acusado de ter sido o responsável pelas
investigações contra a Telexfree, o que o governo nega. O secretário de
Comunicação do Estado do Acre, Leonildo Rosa, afirmou desconhecer a declaração
de Viana, mas defendeu a possibilidade de o titular do Executivo fazer tais
comentários.
"O governador tem as opiniões dele e, num Estado
Democrático de Direito, tem o pleno direto de manifestar a opinião dele, como
da mesma forma algumas pessoas têm direito de questionar a opinião dele",
disse Rosa ao iG . O secretário também afirmou que o assunto Telexfree mexe com
"10% da população do Acre" e que, por isso, Costa foi recebido pelo
governador.
"No entendimento do governador, esse é um assunto da
Justiça, e o governador já falou várias vezes que ele não é contra [ a
Telexfree ] porque ele entende que ninguém está sendo lesado até agora."
Críticas
e ameaças
O Judiciário do Acre tem sido alvo de pesadas críticas
por parte dos sócios e apoiadores da Telexfree desde que, em junho, determinou
o bloqueio das contas e atividades da empresa em todo o Brasil. Responsável
pela medida, a juíza Thaís Khalil, da 2ª Vara Cível, chegou a ser ameaçada de
morte.
Deputados estaduais também têm feito desagravos à
empresa. A Assembleia Legislativa do Acre fez uma sessão em apoio à Telexfree,
no dia em que ocorreria uma audiência de conciliação presidida pela juíza.
Segundo o deputado Moisés Diniz (PCdoB),
a empresa foi acusada de ser pirâmide porque "os bancos corriam risco de
não ter mais dinheiro para financiar empreiteiras".
Em julho, o deputado Helder Paiva (PEN) já havia
defendido a criação de uma comissão de parlamentares para visitar os
magistrados do Tribunal de Justiça do Acre, após o bloqueio da empresa ser
mantido por decisão do desembargador Samoel Evangelista .
As declarações de Viana se somaram ao coro a favor da
Telexfree no momento em que a juíza Thaís Khalil se preparava para decidir se
manteria o processo que pede a extinção da empresa e a devolução dos recursos
os investidores. A ação foi movida pelo Ministério Público do Acre (MP-AC), que
também foi responsável por solicitar o bloqueio provisório das contas e
atividades.
Na última quinta-feira (21), a juíza Thaís manteve a ação . Agora, terá de decidir
se aceita os pedidos do MP-AC e condena a Telexfree ou se inocenta a empresa e
põe fim ao caso. Dificilmente esse julgamento ocorrerá ainda em 2013.
Mudança
de logotipo e de país
A ação contra a Telexfree atinge atualmente apenas as
atividades da empresa no Brasil, onde ela foi fundada em 2010 com o nome de
Ympactus Comercial. Seus proprietários, entretanto, buscam agora transferir a
carteira de investidores captada no País para a Telexfree LLC, detida por eles
nos Estados Unidos, e criada em 2002.
Em vídeo, o diretor da Telexfree no Brasil, Carlos Costa,
disse que aceitaria pôr fim à Ympactus desde que os atuais contratos com a
empresa pudessem ser ser cumpridos até o final e os associados, tivessem como
alternativa “optar de participar na Telexfree americana.” O braço brasileiro
também tenta transferir R$ 29 milhões para as contas nos EUA .
A Telexfree também anunciou que mudará a sua identidade
visual. O anúncio foi feito no mesmo momento em que começou a circular na
internet a comparação entre o atual logotipo da empresa e o de uma competição
de badminton. Ambos são idênticos. Procurada no início da noite, a Telexfree
não comentou os fatos até a publicação desta reportagem.
Vitor
Sorano - iG São Paulo
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